
"Às vezes sinto que a vida começa nesse instante e tudo o que passou já não importa, e o que está por vir ganha dimensão. Aí eu perco o medo da dor, do futuro, do amor e tudo permanece em silêncio, o tempo suspenso, e a minha vida às vezes boba, às vezes bela, passa a ter algum sentido maior que o comum - talvez o sentido que ela tinha quando eu era apenas um menino banguela, sete aninhos de idade, apaixonado pela Tia Claudia, a professora mais linda do mundo. É um sabor de eternidade no meu peito, entre minhas mãos, entre meus lábios, o mundo gira ao meu redor e eu quero abrir a janela e gritar que finalmente estou bem, que tudo está bem, sempre esteve; mas eu não grito, apenas sorrio, fecho os olhos e sussurro palavras ao vento. Eu preciso compartilhar. Preciso estender minhas mãos e encontrar as mãos de alguém. Talvez as de meu pai, talvez as suas, talvez as daquele menino banguela que eu fui. Escrevo para vencer a solidão, para saber que não estou só e que há um oceano de emoções e mistérios que me ligam ao outro. Às vezes eu faço as pazes com a vida e volto a ser aquele menino banguela que fazia xixi na cama. E tudo se completa."
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