
Subiu num caixote e falou assim: "Eu os perdôo, irmãos! Perdôo todos vocês! Vão com Deus, estão todos perdoados!" Era um mendigo no Largo da Carioca, maltrapilho, jeito doce de avô, que dizia palavras de conforto aos passantes. Não pedia esmola, não pedia comida, não queria nada. Apenas perdoava. A multidão ia e vinha apressada, as compras de Natal balançando nas mãos, a confusão do centro do Rio abafando a voz daquele homem tão raro. Um senhor de idade, terno e gravata, parou ao seu lado, respeitoso, olhou-o por um segundo e apertou sua mão. Lembrei-me das freiras da escola contando-nos que Cristo, quando vem à Terra, vem como mendigo para ver quem o ajuda, quem o olha nos olhos, quem aperta sua mão. Passados vinte minutos, o homem desceu do caixote e partiu em direção à Avenida Rio Branco. Fui atrás. Quase na esquina, alcancei-o. "O senhor... Quem é o senhor?", perguntei, sem saber o que perguntar. Ele sorriu. "Ora, eu não sou ninguém. Sou apenas um mendigo." Sorriu novamente e atravessou a rua. Por alguns segundos, vi-o distanciar-se até ser tragado pela multidão. Pareceu-me, de longe, um mendigo qualquer - também eu, no centro da cidade, uma pessoa qualquer.
2 comentários:
Caio, resolvi dar um olhadinha no seu blog e assumo: me encantei!!!
Rsrs..
Saudade d ver vc pelos corredores..
Obrigado, Adriana. Seja muito bem-vinda! Mataremos a saudade em breve.
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