Rádio do vovô

Tudo que use o abandono por dentro e por fora

Meditando sobre o nada

Estava na janela do ônibus e pensava carinhosamente na vida. Era o vento no rosto, era a noite e suas estrelas, era o sabor de voltar para casa, voltar para abraçar meus priminhos, era tudo isso e também uma vontade de agradecer a não sei quem, por não sei o quê. Vontade de ligar para meu pai e dizer "Obrigado, papai, pela vida!", de fazer o mesmo com mamãe, de telefonar para meu melhor amigo e dizer "Boa viagem, meu amigo, estou com você!". Um desses instantes em que olhamos para o lado e vemos no outro um igual, e sentimos que a vida faz algum sentido quando estamos mais atentos ao movimento que nos rodeia. A espécie humana passa a ser algo significativo. Ora, o que é a espécie humana senão isto, este ônibus, estas pessoas aqui dentro, lá fora, no meu pensamento, na minha memória? Nas janelas dos edifícios e das casas, sob as luzes de um barco branco que navega ao longe, tão longe que não podemos vê-lo, ali há um homem sonhando sonhos e perdendo medos e vivendo dramas e fazendo nada. Num quarto alguém compõe uma música em silêncio. Em outro uma criança chora. E eu ali, sentado na janela de um ônibus, com um sem-número de pessoas ao meu redor, tão importante quanto a casca de uma laranja, eu me sentia em cada janela, em cada esquina do mundo, sob a luz de um barco que navega na lonjura e juraria poder ouvir uma música que acabara de ser composta, e também o choro de uma criança desconhecida. Não foi nada de grandioso, não; apenas uma dessas impressões que vêm e vão quando se está na janela de um ônibus, ou noutra janela qualquer, meditando sobre o nada.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caio Barreto!
quanto tempo!
Só para dizer que passe, conheci e gostei!
Um beijo e que seus escritos e suas escolhas musicais continuem demais!
Clarice

Anônimo disse...

Cara, vc encontrou "Amapola", do Ennio Morricone! Eu vou te dar um beijo na boca! Grava para mim, Cainho? Rs. To lendo tudo, está belíssimo o blog. Bjão da amiga louca!

Anônimo disse...

Caio Barretto com dois t's. Não sabia que vc escrevia tão bonito, meu amigo. E olha que a gente se conhece há um tempão. Parabéns pelo blog!